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A Cozinha Verde

A Cozinha Verde, da autoria de Filipa Range, tem como principal missão inspirar para a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis, através da cozinha vegan.

Qui | 19.07.18

Polenta com cogumelos picantes e redução de frutos vermelhos

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Quem me acompanha há algum tempo sabe que um dos principais objetivos deste blog é ajudar a descomplicar a cozinha vegan. Todas as receitas que partilho foram pensadas para ser acessíveis para qualquer pessoa. São geralmente rápidas e simples de confeccionar, com listas de ingredientes curtas. Não pretendo passar a ideia de que é necessário passar horas intermináveis na cozinha para fazer uma alimentação 100% vegetal. Apesar de gostar de criar receitas, no dia-a-dia não adoro passar muito tempo na cozinha. Acredito que se passe o mesmo com a maioria de vocês. 

Tenho alguns truques para poupar tempo na preparação das nossas refeições cá em casa. Não sou uma pessoa muito organizada e metódica. Não consigo funcionar com planos semanais de refeições por exemplo. Muitas vezes nem diários ahah. O homem é pior do que eu. Antes do Lourenço nascer, nunca conseguiamos jantar antes das 22h.

Dizem que a maternidade nos muda. As prioridades alteram-se e passamos a ter um ser pequenino e adorável que precisa de nós para aprender a viver neste mundo. Foi depois dos 6 meses, quando ele começou a introduzir outros alimentos para além do leite materno, que comecei a arranjar uma estratégia para nos conseguirmos sentar todos à mesa e a uma hora "decente". 

Não se tratou de magia mas com um pouco de persistência e consistência ao fim de algum tempo conseguimos fazê-lo. Hoje em dia, jantar às 22h é a exceção e não a regra. 

Antes de passar para a receita que me trouxe hoje aqui, vou deixar-vos uma pequena lista com algumas das nossas dicas para gerir as refeições. Atenção, isto é o que funciona connosco, tendo em consideração a nossa dinâmica familiar, gostos e possibilidades. 

 

As nossas dicas para poupar tempo na cozinha

 

1. Fazer listas de compras 

Não planeamos as refeições para a semana, mas tento fazer listas de compras para conseguir garantir algumas refeições. Já no supermercado/mercado, antes de levar um alimento penso primeiro no que poderemos fazer com ele tendo em conta os restantes ingredientes que temos em casa e/ou no carrinho de compras.  

2. Dispor os ingredientes todos na bancada antes de começar a cozinhar

Gosto de organizar todos os ingredientes da receita na bancada antes de começar a cozinhar. Ajuda a manter o foco na receita, diminuindo o tempo de preparação e confeção (mesmo que a receita esteja a ser inventada no momento).  

3. Manter a cozinha limpa e arrumada

Este é dos pontos mais importantes e permite poupar imenso tempo. Vou lavando a loiça e arrumando os ingredientes que já não são necessários enquanto cozinho. Faço-o, por exemplo, quando passo de uma receita para outra ou durante os "tempos mortos" de uma receita. 

4. Tirar partido dos utensílios de cozinha

Uso e abuso dos utensílios de cozinha que facilitem o meu trabalho. Como alguns daqueles que encontram neste artigo que escrevi para o Sapo. Não vivo sem descascadores, sem a minha super chef da Tupperware (uso para picar cebola, alho, aromáticas, etc) ou sem o meu processador multipro da Kenwood.

5. Congelar

De tempos a tempos, cozo leguminosas e cereais integrais em maior quantidade para congelar e/ou conservar no frigorífico para utilizar naquela semana. Faço o mesmo com as sopas do Lourenço e com fruta madura (que dá imenso jeito para desenrascar um lanche ou sobremesa rápida). 

 

E vocês, que estratégias utilizam para encurtar o tempo que passam na cozinha? Partilhem comigo nos comentários. 

 

Vamos agora à receita de hoje. Já ouviram falar de polenta? Parece que este é um dos hits do momento mas sabiam que a sua história remonta a tempos bem antigos? A polenta é feita com sémola ou farinha de milho, cozido em água até obterem a consistência desejada. Tem um sabor neutro, o que possibilita inúmeras combinações diferentes, tanto doces como salgadas. Já tinha experimentado algumas vezes em restaurantes vegetarianos e andava com imensa curiosidade para experimentar fazer em casa. Encontrei no Lidl uma polenta express (sémola de milho sem OGM pré-cozida a vapor) que prometia confeccionar este prato cerca de 3 minutos. Na semana passada, num dia em que não tinhamos refeição planeada e/ou preparada, olhámos para a embalagem na despensa e decidimos experimentar. Tinhamos um coulis de frutos vermelhos no frigorífico que tinha sobrado de uma sobremesa e uns cogumelos pleurotus que sobraram de uma canja acabada de fazer. Os ingredientes estavam decididos e dispostos na bancada. Ao fim de 20 minutos, tinhamos a receita empratada. 

 

Não se assustem com o nome, a polenta é mesmo super fácil de fazer! O resultado ficou incrível, adorei a combinação do doce dos frutos vermelhos com o toque picante dos cogumelos e a textura e sabor suave da polenta ligou na perfeição todos os elementos.

 

Servimos a polenta como refeição principal (em conjunto com a canja que já estava preparada) mas podem também fazê-la como entrada. Seja como for que decidam servi-la, o resultado vai ser o mesmo: DELICIOSO!

 

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Polenta com cogumelos picantes e frutos vermelhos

Serve 4 pessoas

Tempo de preparação: 15 minutos

Tempo de confeção: 20 minutos

 

Ingredientes

Polenta:

1/2 cup (chávena) de sémola de milho pré-cozida ao vapor

2 cups (chávenas) de água

Temperos: paprika doce, alho em pó, sal marinho e pimenta-preta, q.b.

 

Cogumelos pleurotus picantes:

150 a 200gr cogumelos pleurotus

1 dente de alho

1/2 colher de chá de malagueta seca (moída ou em flocos)

Sal marinho e pimenta-preta q.b.

1 colher de sopa de azeite extra-virgem

 

Coulis de frutos vermelhos

100gr de frutos vermelhos congelados

1 colher de sopa de açúcar de coco

1 colher de chá de sumo de limão

 

 

Preparação

Polenta:

Aqueça em lume médio um tacho com a água e adicione os temperos a seu gosto. Depois, adicione lentamente a sémola de milho na água e mexa até obter uma consistência firme (aproximadamente 7 minutos). Tenha em atenção que depois de arrefecer a polenta ganhará um pouco mais de firmeza. Nota: É importante que adicione a polenta lentamente e que mexa durante todo o processo para que a mesma fique homogénea e sem grumos. Transfira para um prato e deixe arrefecer. Corte a polenta em cubos com a ajuda de uma faca ou, caso tenha um molde, utilize-o para fazer um cilindro - ou qualquer outra forma geométrica. 

 

Cogumelos pleurotus picantes:

Corte os cogumelos pleurotus em tiras e pique o alho finamente. Reserve.

Numa frigideira, aqueça o azeite e adicione as tiras de cogumelos. Tempere com o sal, a pimenta-preta e a malagueta. Salteie por uns minutos até ficarem tenros. Junte o alho, incorpore, salteie por mais um a dois minutos e desligue o lume.

 

Coulis de frutos vermelhos

Leve os frutos vermelhos, o sumo de limão e o açúcar de coco ao lume. Deixe cozer em lume brando, mexendo sempre que necessário. Os frutos vermelhos vão desfazer-se e libertar água e irá começar a obter uma consistência semelhante a um doce. Assim que a redução estiver terminada - poderá demorar uns 10 a 15 minutos - desligue o lume. Transfira para um copo alto e triture com a varinha mágica para obter um creme homogéneo. Deixe arrefecer e guarde no frigorífico até servir. 

 

Empratamento

Agora que já tem os três elementos da receita prontos, pode começar a empratar para servir. 

Começe por colocar uma porção da polenta no prato. Depois, adicione os cogumelos por cima. Finalize com o coulis de frutos vermelhos.

 

Bom apetite!

Qui | 12.07.18

Tofu marinho com crosta de broa de milho

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Há um par de semanas estivemos a trabalhar num projeto muito especial (a seu tempo irei divulgar, mas por enquanto está no segredo dos deuses) e tivemos de confeccionar e fotografar esta pequena maravilha que encontram nas imagens acima. Trata-se de um singelo Tofu marinho com crosta de broa de milho, uma adaptação da famosa receita tradicional portuguesa, o bacalhau com broa. 

 

Encontram uma receita de Tofu com broa no livro "A Cozinha Verde", igualmente deliciosa, mas ligeiramente diferente desta que hoje vos apresento.

Esta receita é leve, simples de confeccionar e muito, muito saborosa. 

Embora não consuma tofu todos os dias (média 1 vez em cada 2 semanas), gosto muito de confeccionar (e comer, ahah) pratos com este ingrediente. Quando bem confeccionado, o tofu é uma excelente opção na cozinha vegan e permite-nos criar receitas muito interessantes. Não tendo um sabor proeminente, adquire os sabores que nós quisermos, através do uso das especiarias, das ervas aromáticas, dos vegetais. O truque está essencialmente em fazer uma boa marinada e em escolher uma boa marca de tofu (biológica). Há marcas simplesmente más, e se tivermos o azar de ter as primeiras experiências com este alimento com uma delas, vamos certamente achar que o tofu é horrível. Aconteceu-me precisamente isto quando adotei uma alimentação vegan. As minhas primeiras experiências com o tofu - que aconteceram em restaurantes - foram simplesmente desastrosas. Pratos com nacos de tofu gigantes e sem qualquer sabor. Fiquei um ano sem voltar a tocar em tofu. Até que decidi dar-lhe uma segunda oportunidade, e comecei a experimentar receitas em casa. E assim entrou o tofu na minha vida. 

 

Não me canso de dizer que o tofu é apenas mais uma opção na alimentação vegan. Não é de todo a base da nossa alimentação nem precisa de fazer parte da maioria das refeições. Existem um sem número de alimentos diferentes e naturais (i.e. não processados) que servem para substituir a proteína nas refeições 100% vegetais (podem ler mais sobre este assunto aqui). Mas a verdade é que esta é uma opção muito prática e que permite criar pratos muito variados e criativos. Para além disso, é um alimento fácil de digerir e muito completo do ponto de vista nutricional.

 

Por isso, se fazem parte do grupo que diz não gostar de tofu e se se identificarem com a minha história, experimentem esta receita. Poderão surpreender-se e mudar a vossa opinião.

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Tofu marinho com crosta de broa de milho 

Serve 2 a 4 pessoas

Tempo de preparação + confeção: 30 + 30 minutos

 

Ingredientes

Tofu marinho

500gr de tofu

2 dentes de alho esmagados

Sumo de 1 limão

2 colheres de sopa de algas secas e picadas (qualquer variedade)

2 folhas de louro

1 colher de sopa de molho de soja

Água q.b.

1 colher de sopa de azeite-extra virgem

 

Cebola caramelizada

2 cebolas grandes, fatiadas em meias-luas

1 colher de chá de açúcar mascavado

2 colheres de chá de vinagre balsâmico

1 colher de sopa de azeite extra virgem

Sal marinho e pimenta-preta, a gosto

 

Crosta de broa de milho

½ broa de milho

1 mão cheia de coentros frescos

 

 

Preparação

  1. Comece por marinar o tofu, dispondo as fatias num recipiente largo. Adicione o sumo de limão, o molho de soja, as algas, o louro e o alho. Cubra com água e deixe repousar por aproximadamente 30 minutos, enquanto prepara os restantes ingredientes da receita.
  2. No processador de alimentos, triture a broa de milho com os coentros frescos. Transfira para um pirex e leve ao forno, a 180º, até dourar (aproximadamente 10 minutos). Reserve.
  3. Numa frigideira larga, salteie a cebola no azeite até esta se apresentar translúcida. Tempere com sal marinho e pimenta-preta a gosto. Adicione o açúcar mascavado e o vinagre balsâmico e deixe caramelizar em lume brando, mexendo frequentemente para não queimar. Este processo deverá demorar aproximadamente 10 minutos. Reserve.
  4. Numa frigideira com um fio de azeite, frite as fatias de tofu, previamente marinadas, cerca de meio minuto de cada lado, até dourar. Transfira para um pirex e leve ao forno, a 180º, por 10 minutos.
  5. Para a montagem, corte cada fatia de tofu em 4 partes iguais e disponha-as na base do prato. Adicione uma porção de cebola caramelizada, seguida de uma porção de crosta de broa de milho.

 

Nota

  1. Esta receita foi inspirada num prato típico da gastronomia portuguesa que tem como ingrediente principal o bacalhau. Com esta adaptação vegan, pretendo mostrar que é possível recriar receitas mais tradicionais, sem abdicar do sabor.