A Cozinha Verde, da autoria de Filipa Range, tem como principal missão inspirar para a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis, através da cozinha vegan.
A poucos dias do final do ano, não faltam artigos, inspirational quotes e imagens a correr na Internet sobre as tão conhecidas (e previsíveis) "resoluções de ano novo". Para mim, não passam de frases feitas, na sua grande maioria. Não estou com isto a dizer que algumas delas não façam parte da minha "wish list". Mas será que precisamos de chegar ao último dia do ano para decidirmos que queremos ser felizes, saudáveis, perder peso, mudar de trabalho, ter filhos, ou o que quer que seja que faça sentido para nós?!
Para mim, este é um processo diário e contínuo. Um caminho que podemos (e devemos) percorrer todos os dias. Se desejo mudar algo na minha vida hoje, não vou esperar que uma dúzia de passas de uva me tragam uma motivação maior para o fazer.
O texto que se segue não fala por isso de resoluções de ano novo, mas tem como objetivo inspirar-vos a irem atrás dos vossos "sonhos", hoje. Não tendo sido escrito por mim, reflete aquilo em que acredito, sem mudar uma vírgula. A união da alimentação vegan (o meu mundo) com a prática de yoga (o mundo do Nuno) e com o veganismo (o mundo de ambos), que num futuro próximo irá resultar num projeto em conjunto que estamos HOJE a desenvolver.
Podia apresentar-vos o Nuno Filipe como professor de yoga, mas isso seria restringir um ser humano a um título ou rótulo, algo que para mim não faz qualquer sentido. Prefiro assim que o conheçam da melhor maneira possível, com aquilo que ele escreve, que traduz verdadeiramente aquilo que ele é...
O Yoga e o Veganismo
by Nuno Filipe
Tentar contextualizar o vegetarianismo / veganismo com a prática de Yoga é tão complexo como a prática em si. Tentar fazê-lo de forma a que quem nunca tenha tido contacto com a filosofia e tradição do yoga consiga entender com clareza, é duplamente complexo.
Por isso quando “A Cozinha Verde” me pediu um pequeno texto sobre a ligação entre o yoga e alimentação que escolhemos para nós, a minha primeira pergunta foi “define pequeno?!”
Tirando o elefante da sala logo de início, nem todos os praticantes de Yoga são vegetarianos. Acredito que todos devemos caminhar no caminho mais positivo da nossa prática de Yoga e na interpretação que fazemos dela, e perder tempo a encontrar falhas ou desacreditar outras pessoas e as interpretações delas é algo a que não nos podemos – nem devemos - dar o luxo.
Dito isto, acredito também que um praticante consciente adopta o vegetarianismo como consequência do processo de compreensão da realidade da vida e do papel que a sua presença exerce no mundo. Assim o praticante consciente, aprende que a realização espiritual e a verdadeira felicidade somente são possíveis se os nossos pensamentos, sentimentos e ações estiverem em harmonia.
As posturas e técnicas básicas de uma prática de Yoga não são fáceis de aprender. Do mesmo modo que repensar e reeducar a nossa alimentação também não o é. A partir do momento em que enveredamos por qualquer um dos caminhos – ou de ambos – rapidamente nos apercebemos que existe um rigor anexo a essa educação, e que não existe mesmo forma de contornar esse rigor. Teremos de nos sacrificar e arriscar ir além dos nossos limites pré-concebidos, e nisso existe sempre um elemento de incerteza e de perigo. “será que vou cair na postura?” ou “será que estou a consumir todos os nutrientes que preciso?”. Numa época de pessoas privilegiadas e resultados rápidos isto não são boas notícias: não há um atalho ou uma estrada sem buracos. É preciso discernimento, disciplina, compreensão e compaixão.
Contextualizando:
Todos estamos familiarizados com a palavra “karma”.
A grande maioria de nós entende-a como as simples consequências das nossas ações. No entanto, simplesmente por existirmos neste mundo, também partilhamos karma com as nossas famílias, comunidades e com o nosso planeta e todos os seus habitantes.
Na filosofia do Yoga, o mundo em que existimos é um onde devemos pagar a nossa dívida kármica. Isto é visto como sofrimento. O verdadeiro significado do Yoga é muito mais que o comum estereótipo de “iluminação”; é o fim de todo o sofrimento e “ignorância” (Avidya, a ignorância sobre o conhecimento que leva ao sofrimento) e não apenas o nosso.
Pagar a nossa dívida Kármica seria bastante mais fácil se não estivéssemos continuamente a acumular karma. Tal como Krishna disse a Arjuna no Bhagavad Gita “Aqueles cujo apego é o de recompensas pessoais, colhem as consequências das suas ações: algumas agradáveis, outras desagradáveis, algumas um pouco de ambos os sentimentos. Aqueles que renunciam ao desejo de recompensas pessoais, irão além do alcance do karma”.
Colocado de forma simples, fazemos o que temos de fazer porque tem de ser feito, e fazêmo-lo sem qualquer expectativa.
E do karma passamos ao dharma.
Dharma significa “aquilo que mantém unido”.
No plano humano, dharma pode ser considerado como “fazer a coisa certa”.
Esta compreensão sobre o karma e dharma é essencial para podermos integrar na nossa vida os Yamas e os Niyamas. E perguntam vocês o que são os Yamas e Niyamas? Ora, Yamas e Niyamas são como um código de conduta para o praticante de Yoga sobre como fazer melhores escolhas. Todos queremos fazer boas escolhas certo? Mas ao invés de ser um código assente na repressão e controle, estes aspectos da prática baseiam-se na coerência, motivação e coordenação dos nossos esforços para podermos fazer melhores escolhas a cada momento.
De entre os Yamas e Nyamas, encontramos Ahimsa. Mais conhecido como “não-violência”. Existem duas dimensões diferentes na prática da não-violência, que estão intrinsecamente ligadas: uma pessoal e uma social. A primeira tem a ver com a forma como nos relacionamos connosco e com a nossa prática pessoal de Yoga. A segunda tem a ver com a maneira em que vivemos a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.
Geralmente, a questão da opressão animal é abordada apenas em termos de compaixão e preconceito: os animais são explorados e destruídos, simplesmente porque os vemos como sub humanos e estamos dispostos a abusar deles para satisfazer a nossa ganância e paladar. Mas talvez o problema vá um pouco mais fundo do que mera crueldade e avareza. No nosso contexto social atual, não são apenas os animais que são explorados - é tudo e são todos, de terras de cultivo a florestas, a agricultores e empregados de loja. A opressão dos animais é mais evidente pois envolve o assassinato de seres vivos, mas não são apenas eles os escravizados pela nossa sociedade, é tudo, nós mesmos incluídos. Sem uma compreensão de como e porquê o nosso sistema económico e social nos leva a constantemente dominar, explorar e oprimir tudo, não seremos capazes de acabar a violência contra os animais e ambiente, ou pelo menos de uma forma significante e a longo prazo. Diariamente, somos encorajados a questionar como podem os animais, as pessoas e o ambiente, ser usados como recurso na competição diária da nossa vida. Esta é uma das razões pela qual considero que Ahimsa para com os animais é indivisível da mesma não-violência que precisamos de praticar com nós mesmos.
Tudo vale no jogo da exploração, e se não exploramos algo com o intuito de ficar na mó de cima - de acordo com as exigências que nos são impostas sob o disfarce de livre arbítrio - alguém o irá fazer por nós, e muito provavelmente utilizá-lo para nos explorar de volta. Este é um pensamento tão cruel e violento que aqueles que se apercebem disto, não têm qualquer receio em maltratar humanos e animais, porque acreditam que a alternativa é serem eles mesmos alvo dessa violência.
O praticante de yoga que abraça ahimsa e adopta o vegetarianismo/veganismo reconhece o valor dos animais não humanos, um valor que não pode ser calculado por economistas, apenas medido pela compaixão humana. Apenas uma perspectiva e estilo de vida com base na verdadeira compaixão consegue destruir os arquétipos opressivos e violentos da nossa sociedade presente e auspiciar em desenvolver novas realidades, novos relacionamentos, com a forma como tratamos os animais que partilham o Mundo connosco. É surrealista pensar que uma sociedade que oprime animais não humanos seja alguma vez capaz de se tornar uma sociedade que não oprima humanos.
A libertação animal e o fim da violência para com todos os seres (isto inclui a violência que praticamos para com nós próprios) é uma colectânea de processos internos. Talvez possamos aprender acerca de nós mesmos na forma como tratamos os animais. Devemos começar por reavaliar como a vida deve ser para humanos e animais de igual modo, e de como tornar ambas as existências significantes e preenchidas.
O yogi vegan não é sinal de iluminação. Tal como não existe um teste que possa ser aplicado ao ser humano para determinar o seu grau de espiritualidade, tão pouco podemos considerar que a dieta signifique alguma coisa em termos de progresso pessoal e espiritual. Se trocarmos os nossos condicionamentos por outros, como a tendência de julgarmos os demais ou de nos considerarmos superiores, então poderemos não estar a praticar com a atitude correcta, de mente equânime e coração aberto. Quando caminhamos por um caminho de evolução pessoal e social, é importante que não nos deixemos cair na teia pegajosa da arrogância. Os resultados poderão não ser tão imediatos mas serão mais duradouros com toda a certeza.
Tirem-nos o Amor, e o nosso mundo é um túmulo.
LOKAH SAMASTAH SUKHINO BHAVANTHU
"Que todos os seres sejam felizes e que meus pensamentos, palavras e atos contribuam para a felicidade de todos os seres"
*Palavras como Yama, Nyama, Ahimsa, Bhagavad Gita, sofrimento e ignorância, etc podem causar confusão a quem nunca as leu. Por favor sintam-se na liberdade de me escreverem para qualquer dúvida!
O meu nome é Nuno, sou aluno, estudante e professor de Yoga.
Este molho de miso faz-se num minuto, e é absolutamente maravilhoso. E a combinação com a beringela no forno e as sementes de sésamo tostadas... Oh my God!! O melhor é experimentarem e comprovarem por vocês mesmos.
... Serve 4 pessoas Tempo de preparação: 40 minutos
Ingredientes
2 beringelas bio Azeite extra virgem bio 4 colheres (chá) de açúcar mascavado ou de coco 2 colheres (sopa) de pasta de miso (sweet white miso) 2 colheres (sopa) de vinagre de arroz Sementes de sésamo a gosto
Preparação
Corte as beringelas ao meio e dê-lhes vários golpes na polpa. Coloque-as num tabuleiro, viradas para cima, e regue-as com azeite.
Leve ao forno, pré aquecido a 200º, durante 30 minutos.
Entretanto, numa taça, junte o açúcar mascavado ou de coco, o vinagre de arroz e a pasta de miso e misture tudo muito bem. Reserve.
Retire as beringelas do forno e pincele-as com o molho de miso. Leve novamente ao forno, 5 a 10 minutos.
Entretanto, coloque as sementes de sésamo numa frigideira (sem gordura) e deixe-as tostar por uns minutos, com cuidado para não queimarem (em alternativa, pode tostá-las no forno).
Polvilhe as beringelas com as sementes de sésamo tostadas. Servir como entrada ou acompanhamento.
Sobre o Miso
O miso é uma pasta de soja fermentada, produzido a partir dos feijões de soja cozidos e misturados com outros cereais. Após a fermentação dos grãos, a mistura é salgada, obtendo-se uma pasta espessa e nutritiva. É um excelente condimento em vários pratos.
A consistência do miso é pastosa e a cor varia entre o bege claro e o castanho escuro, passando por toda uma gama de cores intermédias. O sabor é intenso e relativamente salgado, assemelhando-se a avelãs. O miso de cor clara é, normalmente, menos salgado e de sabor menos intenso do que o mais escuro.
Devido ao processo de fermentação a que é sujeito, o miso é um alimento vivo (tal como o iogurte) que contém bactérias e fermentos vivos, facilmente assimilados pelo organismo, e muito benéficos para o equilíbrio da flora intestinal.
Concentrado em energia, possui muita da riqueza proteica dos feijões de soja. Contém igualmente fitonutrientes como as isoflavonas, presentes nos feijões de onde é originado.